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Cobrança Abusiva e Violação de Sigilo Bancário: A Linha Tênue entre o Direito e o Abuso

  • Foto do escritor: JOSE CARLOS PRIETO
    JOSE CARLOS PRIETO
  • 9 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 14 de ago.


Cobrança Abusiva e Violação de Sigilo Bancário: A Linha Tênue entre o Direito e o Abuso

A relação entre instituições financeiras e seus clientes é complexa e delicada, exigindo um equilíbrio entre o direito de cobrança e o respeito à dignidade e privacidade do consumidor. Quando essa linha tênue é ultrapassada, o exercício legítimo do direito se transforma em abuso e ilegalidade, gerando danos significativos e exigindo reparação. Este artigo aprofunda a análise de um caso emblemático de cobrança abusiva e violação de sigilo bancário, explorando os direitos dos consumidores, a legislação aplicável e as medidas legais cabíveis.


A Crise Financeira e a Busca por Soluções


Uma empresa, cliente de longa data de uma instituição financeira, enfrentou uma crise financeira inesperada, decorrente de atrasos em pagamentos de serviços prestados e prejuízos em obras executadas. Diante da impossibilidade de honrar seus compromissos de crédito, a empresa buscou o diálogo com a instituição financeira, comunicando sua situação e buscando alternativas para regularizar a dívida.

A empresa procurou a agência bancária, conversou com o gerente geral e expôs sua situação, buscando uma prorrogação do vencimento das parcelas. No entanto, a resposta foi negativa, com a instituição financeira oferecendo apenas a opção de reparcelamento do débito, com aumento da taxa de juros e exigência de pagamento de entrada de 30% do valor devido, montante que a empresa não dispunha naquele momento.


A Escalada da Cobrança Abusiva


Diante da impossibilidade de acordo, a instituição financeira iniciou uma série de práticas abusivas, que se intensificaram ao longo do tempo.

  • Ligações Reiteradas e Perturbadoras: A empresa passou a receber ligações constantes, inclusive em horários e dias inadequados, como domingos pela manhã. As ligações eram realizadas de forma insistente e perturbadora, causando incômodo e constrangimento.

  • Contatos com Terceiros: A instituição financeira, por meio de uma empresa terceirizada, passou a ligar para outros números de telefone da empresa, que não haviam sido fornecidos como contato. Ao contatar terceiros, a empresa terceirizada divulgou informações sobre a dívida, expondo a empresa a constrangimento e violando sua privacidade.

  • Ameaças e Constrangimento: As ligações eram realizadas de forma grosseira e ameaçadora, com a empresa terceirizada informando que os contatos só cessariam por ordem judicial. Essa conduta gerou medo e insegurança na empresa, que se sentiu pressionada e coagida.

  • Violação de Sigilo Bancário: Ao contatar terceiros e divulgar informações sobre a dívida, a instituição financeira violou o sigilo bancário, protegido pela Lei Complementar 105/01. Essa conduta é considerada ilegal e configura crime.


A Proteção do Consumidor e a Legislação Aplicável


O caso em questão revela uma série de violações aos direitos do consumidor, previstos no Código de Defesa do Consumidor (CDC) e em outras leis.

  • Código de Defesa do Consumidor (CDC): O CDC estabelece uma série de direitos para proteger os consumidores de práticas abusivas. O artigo 42 do CDC proíbe a exposição do consumidor inadimplente ao ridículo, bem como a submissão a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

  • Código Civil: Os artigos 186 e 187 do Código Civil estabelecem que aquele que, por ação ou omissão, violar direito e causar dano a outrem, ou exceder os limites do exercício regular de um direito, comete ato ilícito.

  • Lei Complementar 105/01: A referida lei dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras, proibindo a quebra de sigilo fora das hipóteses autorizadas.

  • Constituição Federal: O artigo 5º da Constituição Federal garante o direito à privacidade e à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas.


A Reparação dos Danos e a Busca por Justiça


Diante das práticas abusivas e da violação de seus direitos, a empresa buscou reparação na Justiça, pleiteando:

  • Suspensão da Conduta Abusiva: A empresa solicitou a interrupção das ligações e contatos indevidos, buscando cessar o constrangimento e a perturbação.

  • Indenização por Danos Morais: A empresa pleiteou indenização pelos danos morais sofridos, decorrentes do constrangimento, da violação de sigilo bancário e do abuso do direito de cobrança.

  • Inversão do Ônus da Prova: A empresa solicitou a inversão do ônus da prova, com base no artigo 6º, VIII, do CDC, para que a instituição financeira apresentasse os registros das ligações e os documentos que comprovassem a legalidade de sua conduta.


A Importância da Conscientização e da Defesa dos Direitos


O caso relatado foi extraído de um caso concreto conduzido pelo escritório Carlos Prieto Advocacia e serve de alerta para a importância da conscientização e da defesa dos direitos do consumidor. As instituições financeiras devem exercer o direito de cobrança de forma ética e legal, respeitando a dignidade e a privacidade dos clientes.

Os consumidores, por sua vez, devem conhecer seus direitos e buscar reparação quando forem vítimas de práticas abusivas. A busca por justiça é fundamental para garantir o respeito aos direitos do consumidor e para coibir a prática de cobranças abusivas.


O Papel do Advogado na Defesa dos Direitos do Consumidor


O advogado desempenha um papel fundamental na defesa dos direitos do consumidor em casos de cobrança abusiva e violação de sigilo bancário. O profissional auxilia na coleta de provas, na elaboração da ação judicial e na representação do cliente perante a Justiça.

O advogado também orienta o consumidor sobre seus direitos, esclarece as dúvidas e busca a melhor solução para o caso, seja por meio de acordo extrajudicial ou por meio de ação judicial.


A Necessidade de Regulamentação e Fiscalização


A prática de cobranças abusivas e a violação de sigilo bancário são problemas recorrentes no Brasil, exigindo a adoção de medidas para regulamentar e fiscalizar a conduta das instituições financeiras.

A criação de órgãos de fiscalização e a aplicação de sanções mais rigorosas são medidas importantes para coibir a prática de cobranças abusivas e garantir o respeito aos direitos do consumidor.


Conclusão


A relação entre instituições financeiras e consumidores deve ser pautada pelo respeito, pela ética e pela legalidade. Quando o exercício do direito de cobrança se transforma em abuso e ilegalidade, é fundamental que os consumidores busquem seus direitos e exijam reparação pelos danos sofridos.

A conscientização, a defesa dos direitos e a busca por justiça são pilares fundamentais para garantir o equilíbrio e a transparência nas relações de consumo.


Cobrança Abusiva e Violação de Sigilo Bancário: A Linha Tênue entre o Direito e o Abuso


Autor: José Carlos Jeronimo Prieto. Advogado e sócio do escritório Carlos Prieto Advocacia, especialista em Advocacia Cível, Direito Empresarial, Holding e Planejamento Societário.



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